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Gestão de Custos Hospitalares: Quanto Custa Não Fazer Nada?

Começo este artigo apresentando duas propostas e vou terminá-lo com uma opinião e um desafio, portanto, fica o convite para que leiam até o fim. A proposta é pensar “fora da caixa” e se perguntar: posso fazer diferente? O objetivo deste texto é abordar possibilidades de ganhos de eficiência, especificamente as principais causas do desperdício hospitalar.

a) Erro Médico

O Institute for Healhcare Improvemente (IHI) relata que 16 de cada 100 diagnósticos são incorretos e que de 20 a 50 de cada 100 procedimentos diagnósticos não deveriam ser realizados, porque seus resultados não contribuem para diagnosticar a doença ou definir o tratamento. Aqui no Brasil os médicos do hospital Albert Einstein, em São Paulo, reavaliaram a condição de quase 1.500 clientes da seguradora Bradesco Saúde que estavam prestes a fazer uma cirurgia de coluna. Conclusão: dois terços deles não precisariam da operação. Quanto custa uma cirurgia que não precisa ser realizada?

Ainda, segundo estudo publicado pela Harvard Medical Practice, 3,7% do total de internações nos EUA sofreram algum tipo de evento adverso. Enquanto no Brasil um estudo similar em hospitais do Rio de Janeiro relata 7,6% do total de internações. Se considerarmos somente internações SUS, em set/2016, por exemplo, foram 856.891 internações; logo, 7,6% de 856.891, são 65.123 internações. Segundo estudo da Planisa em 30 hospitais brasileiros, o custo de uma internação média no mesmo período foi de R$ 11.407, portanto, chegamos a cifra de 743 milhões. Estima-se ainda que 69% dos custos seriam preveníveis ou proveniente de erros médicos; conclusão: 512 Milhões.

b) Ociosidade Hospitalar

Em uma U.T.I. Neonatal, na base de dados da Planisa, o custo de uma diária, em um mesmo hospital, pode variar significativamente de R$ 1.709,00 (taxa de ocupação real de 53%/256 pacientes dias) a R$ 1.128 (taxa de ocupação padrão de 80%/392 pacientes dias). Portanto, diferença de R$ 581,00 e 136 pacientes dias ou (R$581×136) R$ 79.016,00 desperdiçados mensalmente. Se pensarmos que no Brasil a maioria dos hospitais é de pequeno porte e com ocupação inferior a 40%, qual é a magnitude deste desperdício?

c) A Formação Profissional

A formação profissional também não colabora para diminuir o desperdício, como disse Drauzio Varella em publicação na folha de São Paulo: “Como se vivêssemos em outro planeta, o preço dos tratamentos é ignorado nas faculdades de medicina”. Complemento o artigo de Varella com a publicação do famoso neurocirurgião britânico Henry Marsch: “É preciso três meses para aprender a fazer uma cirurgia, três anos para saber quando é preciso fazê-la e 30 anos para saber quando não se deve fazer uma operação”; portanto ausência e a má formação dos profissionais de saúde são ingredientes importantes na análise das causas dos desperdícios hospitalares.

d) A Relação Custo x Efetividade

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a diarreia é a segunda causa de morte entre crianças até 5 anos no mundo; de outro lado em publicação da Folha de São Paulo um paciente de 90 anos, em estado vegetativo e internado há 570 dias, custa 5 milhões. No cenário da saúde cada vez mais escasso de recursos, o debate da assistência médica parte da contradição: Todos têm direito a viver, mas não há e não haverá dinheiro para todos.

e) Gestão de Processos

As suas tabelas de faturamento estão atualizadas? Você fatura tudo que produz? Compartilho com vocês experiência realizada na Planisa com o eletrodo descartável em um hospital. Em nove meses foram faturados 7.508 itens  que geraram R$ 9.396,00, no mesmo período foram consumidos 108.818 que consumiram R$ 43.530,00, portanto, prejuízo acumulado de R$ 34.133,00.

f) Sistemas de Gestão Hospitalar

As dificuldades de utilização do ERP (Enterprise Resource Planning) na sua plenitude nos hospitais, que na prática deveria ser chamado de Excell Resource Plannning, são sem dúvida componente importante no aumento de desperdício, uma vez que os colaboradores se utilizam de planilhas eletrônicas paralelas ao sistema ERP, gerando retrabalhos e perda de visão sistêmica. De um modo geral ainda alguns profissionais se preocupam mais com o seu papel, sem se atentar as consequências nas outras áreas.

g) Modelo de Remuneração

O modelo de remuneração fee for service (conta aberta) incentiva o desperdício pois, quanto mais se produz e consome, mais se fatura. Dentre os principais itens de consumo, o tempo de permanência é o principal contribuinte para os custos da assistência. O uso do DRG (Diagnosis Related Groups) pode contribuir substancialmente para diminuição da ineficiência do uso do leito, uma vez que identifica a quantidade de dias necessários para permanência do paciente no hospital. Um estudo realizado em hospital de Goiânia demonstrou que o hospital consumiu em quatro meses, 18.375 diárias a mais do que o necessário, com custo fixo de diária de R$ 693,00, gerou perda de (R$693,00X18.375) R$12.746.557 e 151 leitos que poderiam ser utilizados. Em artigo publicado pelos países que da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), o uso do DRG aumentou em 24% a produtividade do leito hospitalar. No Brasil precisamos construir mais leitos ou utilizar os que já existem de melhor forma?

Na minha opinião, a ausência da disciplina de execução na área da saúde, somada as reinternações, complicações, permanência desnecessária do paciente, quantidade exagerada e desnecessária de: exames, materiais e medicamentos e o individualismo do médico, contribuem significativamente para o colapso do sistema de saúde como um todo. Se conseguirmos diminuir a permanência do paciente , além de uma atitude relevante na redução dos custos assistenciais, é também um desafio.

Artigo escrito por Marcelo Carnielo – Diretor Técnico da Planisa.

Publicado na Revista FEHOESP 360 Edição 11 de julho de 2017.

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